domingo, 15 de agosto de 2010

O Caminho da Vida

Um dia, em pleno deserto, vi ao longe uma luz, miragem talvez, não sei, só sei que uma luz de tal maneira forte, que pensei ser a morte, mais tarde percebi que era o caminho da vida, e que numa corrida em direcção a ela, que a perdi por ser tão bela.

E ao perdê-la, tive de permanecer ali, ali naquele mundo perdido, naquele mundo inesperado, naquele mundo que não escolhi, só porque a perdi.



Passei dias sem comer, sem beber, só a sofrer, sempre pensando e chorando, porque perdi a luz que vi. Dor não sentida, mas vivida, dor que permaneceu em mim, dor sem fim, dor que nunca passou…

Pensei, sonhei, imaginei, como seria a luz que vi e que perdi, tão bela era ela.
Chorei, pensei, gritei: “Porquê a mim? Porquê a mim? Só porque a vi? Só porque a vi não a pude sentir? Porquê a mim? Porquê a mim?”
Passaram-se dias, passaram-se noites, noites frias, noites geladas, sem chuvas, sem águas, sem mar, sem luar, e dias com apenas sol, sol e sol, todos os dias havia sol, todos os dias havia calor…um calor infernal, um calor de matar…e eu sempre a pensar, porque a perdi, porque a vi, se não a visse, não sofria, se a agarra-se não pensaria como seria tê-la.

E passei dias e dias, sempre com este pensamento, sentia-me como se a minha vida já não tivesse destino, como se vivesse num desatino. Então foi aí que pensei: “tenho de seguir, não posso ficar aqui parado a espera que algo aconteça”. Então segui, segui pelo deserto, caminhei, dunas e dunas, subia, descia, sempre com os perigos à espreita, sem nunca olhar para trás nem pensar no passado, sem nunca ver mar, água, casa, apenas animais, animais cansados de viver, animais a morrer, animais sem comer, “pobres deles” pensei, “pobre de mim2 e segui, sempre acompanhado por aquela imensidão de calor. Até que vi ao longe, o que parecia ser um lago “miragem” pensei, não queria acreditar, então segui, segui, segui até lá chegar.
Quando finalmente cheguei, coloquei as mãos, muito devagar, não queria que desaparecesse, na água, e vi, vi e senti, era verdade, era tudo verdade, vi animais felizes com esperança de viver, desfrutando da vida, e ali permaneci durante uns dias. Não queria sair dali, era tudo tão belo, era tudo tão calmo, era tudo um sonho que nunca foi realizado.
Comecei a pensar como é que aquilo era possível, como era possível haver um lago no meio do deserto, como era possível que o meu destino tenha mudado, pois pensei que o meu destino era permanecer no deserto até morrer, até pensei já não ter destino. Mais tarde, quando segui o meu caminho, encontrei uma cabana ao longe, e pensei que não podia ser verdade, e segui, pois era bom demais para ser verdade, era impossível acontecer duas coisas boas uma a seguir a outra.
E ao seguir, a cabana desapareceu, como que por magia, e a partir desse momento, pensei em tudo o que em aconteceu à uns tempos, pensei principalmente na luz que vi e que perdi por ser tão bela, e pensei “ A luz que vi era tão bela, tão formosa, e acabei por perde-la por causa da sua beleza, o lago parecia miragem, não queria acreditar, mas acreditei, e ele ali ficou para mim, a cabana achei que era bom demais para ser verdade, então cheguei à conclusão que a luz que vi era o caminho da vida, e que não a quis ver ao mínimo pormenor, e não acreditando nela, perdi-a e ali tive de permanecer, o lago era apenas um sinal de que tinha de acreditar na vida, que o impossível era possível, e não acreditando na cabana, ela desapareceu.
O sinal de que tinha de acreditar na vida, desapareceu, pois não acreditei na luz que vi, não acreditei na vida, não acreditei no impossível. Então comecei por mudar a minha atitude, começando por acreditar no impossível, fazendo a luz voltar, então acreditei nela e segui-a, encontrando o caminho da vida.

Este texto fala no deserto, numa luz, no acreditar no impossível, no acreditar na vida, mas o que quero dizer com este texto, é que se não acreditar-mos no caminho da vida, que a vida se torna vazia, se não acreditar-mos que o impossível é possível, a vida torna-se vazia, se não acreditarmos na vida, não vale a pena viver! O deserto significa o caminho da vida, significa que devemos sempre acreditar na vida e lutar por ela, o facto de o lago não ter desaparecido, significa que a vida estava a dar uma oportunidade de construirmos o nosso caminho, e ele ao acreditar no lago, estava a acreditar na oportunidade da vida, o não acredita na cabana significa que não estava a lutar pela vida.

O texto também fala de ele ter subido e descido dunas e dunas, o que significa que subimos e descemos muitas vezes na vida, que a vida dá muitas voltas e que nem sempre estamos no topo da felicidade, mas também não no topo da infelicidade. O seguir o caminho, significa procurar uma outra solução para os nossos problemas, não ficando sentados à espera que algo aconteça. Os animais cansados de viver, sem comer e a morrer significa aqueles que nada têm, aqueles que não fazem nada por tê-lo, que não fazem nada pela vida. E aqueles animais no lago significam aqueles que tudo têm e que em tempos lutaram pela vida, e agora desfrutam dela, e ele ao ter caminhado em direcção ao lago, estava a acreditar na vida, e a lutar por ela. O sol que havia, o luar que não havia, o mar que não existia, o frio que ele passava significa que a vida não é fácil, e que sem sempre o dia nos corre bem, mas temos sempre que procurar uma “sombra”, uma maneira de dar-mos a volta por cima, e acreditar que por de trás deste terrível sentimento e visão do mundo, há sempre um lado bom!

1 comentário:

  1. Mais um texto, este aplica-se muito bem à vida desta geração. dá que pensar... Beijocas

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