terça-feira, 29 de março de 2011

Sinais Silenciosos

Contos populares, lendas, mitos, histórias daqui e de acolá. Tantas, tantas coisas que nos são contadas, sobre vivências, experiências, testemunhos… coisas essas que nos fascinam, que nos fazem sonhar. E são os nossos avós que nos abrem esses horizontes.


Neste Mundo que tem vida, ao qual chamamos Terra, ou para os mais pequenos, “Planeta Azul”, é um Mundo que respira, que tem vida, que comunica connosco. Pode parecer-nos pequeno, que não tem significado, dor ou felicidade, mas é ele, este ponto azul no universo, que nos dá vida, tecto, que nos acolhe das tempestades do universo.
E é numa pequena cidade, de nome Verona, em Itália, que toda esta descoberta é feita, onde uma lenda é contada por um avô a uma neta.
Maria é uma menina de 12 anos, esbelta, alta para a sua idade e muito curiosa que vive desde sempre com o seu avô João numa pequena casa junto ao Lago di Garda. Como mora longe da escola, lancha no caminho para casa para não dar trabalho ao avô, então pede o lanche no café da esquina e segue para casa. Como na sua rua não existem ecopontos, Maria deita o lixo para o chão junto do jardim. O seu avô, que sempre a espera à janela, vê o que Maria acaba de fazer. Quando esta chega finalmente a casa, o avô chama-a para que conversassem:
-         Maria vem cá ao avô. Quero conversar contigo.
-         Está bem avô, vou já. Deixa-me só ir buscar-te as bolachas e o casaco.
Quando Maria chegou, o avô pediu-lhe que se sentasse na poltrona junto dele e disse-lhe para o ouvir com muita atenção.
-         Maria, eu vi o que fizeste ao lanche à pouco. E não acho que esteja correcto.
-         Pois, mas na nossa rua não tenho sítio onde o pôr.
-         É por isso que te quero contar uma história que se passou comigo na aldeia onde vivi.
-         Hum, está bem avô, estou curiosa.
-         Então a história é assim…
“Foi há muito tempo, lá para os anos 60, tinha eu 16 anos e lá na minha aldeia havia sempre histórias, mitos e lendas que eu adorava ouvir e que mais tarde contei à tua mãe e aos teus tios e que agora quero contar-te a ti. É um dos mitos que mais gosto de contar e dos que mais gostei de viver, porque não só se passou com as pessoas lá da aldeia como se passou comigo também.”
-         Oh avô, conta, conta depressa         que estou a ficar curiosa. – Disse Maria muito ansiosa.
-         Tem calma. Uma coisa de cada vez.
“É um mito que fala do nosso planeta Terra. Sabes que eu na altura também não era muito amigo do ambiente e talvez tenha sido por isso que dei pelas coisas. O mito dizia que a Terra respirava, que vivia e que estava sempre atenta a tudo o que era feito nela.”
-         A Terra respirava avô? – Interrompe de novo Maria
-         Sim, Maria. Deixa-me contar-te a história senão não vais perceber nada do que te quero ensinar.
-         Está bem, prometo que não te interrompo mais avô. Desculpa.
E lá continuou o avô João a contar a história da sua aldeia.
“Foi num dia de muito calor, o sol brilhava e nós jogávamos à bola. Quando chegou a hora de lanchar, parámos o jogo e fomos para o jardim comer. Com a ansiedade de voltar a brincar, deixamos o lixo no jardim. Mas de repente o chão tremeu e abriu-se uma racha, mesmo no meio do nosso campo de futebol, um campo de terra no meio da aldeia. Aproximamo-nos para observar de perto e saber o que estava dentro da fissura. Mal espreitámos a fissura fechou-se. Olhámos uns para os outros e perguntámos o que se tinha passado ali. Mas rapidamente esquecemos o assunto e voltamos à bola.
Mas isto não tinha ficado por aqui. No dia seguinte fui brincar para o meu quintal, estava um dia maravilhoso, reluzente que dava vontade de ficar o todo o dia a olhar para o céu e a contemplar as obras da natureza, tomei lá o pequeno-almoço e mais uma vez deitei o lixo para o chão e logo a seguir a terra voltou a tremer, mas desta vez a terra amontoou-se. E eu achei aquilo tão estranho e chamei a minha mãe que logo me disse que lá na aldeia já se falava daquilo. Afinal aquilo não se estava só a passar comigo e com os meus amigos. E eu, tão curioso que era, assim como tu, Maria, resolvi procurar saber mais sobre o que se passava, então passei dias e dias à espera de um sinal. Mas nada, as únicas coisas que se tinham passado nesses dias era o vento que soprava sempre cada vez mais forte ou o mar que batia com mais força. E eu comecei a reflectir sobre isso até que houve um dia em que uma das minhas suspeitas confirmou-se”
O Avô levantou-se deixando a neta confusa.
-         Oh avô, então onde vais?
-         Tenho de ir à cozinha buscar o meu leite.
-         Oh, deixa que eu vou lá, assim vais contando a história.
-         Então está bem, mas passemos antes para a varanda virada para o Lago.
-         Vou já, então.
Quando Maria chegou, o avô seguiu com a história.
-         Hum, onde ia eu… Ah! Já me lembro!
“Então, foi quando estava deitado na relva do meu jardim, que me lembrei de fazer uma experiência. Fui buscar o meu lanche e no fim deitei o lixo para o chão e nesse preciso momento a terra voltou a mover-se. A partir daí entendi o porquê de tanto alvoroço na Terra ultimamente.”
-E então? Porque era?
-Tem calma Maria.
“A Terra está a tentar dizer-nos que o que fazemos nela está errado, que deitar lixo para o chão é fazer-lhe mal, pois ela tem vida, respira, tem sentimentos… ela é a nossa casa e se a tratarmos mal, não teremos onde viver. Todos aqueles tremores e amontoados, todo aquele vento e mar fortes, eram sinais da Terra a comunicar que estávamos a fazer-lhe mal ao deitarmos o lixo para o chão, pois não a estávamos a respeitar. E então, a partir desse dia, criou-se o mito de que a Terra comunicava connosco quando não a respeitávamos, de que a Terra tinha vida e que nos vigiava. Ainda hoje se diz por ai que as explosões vulcânicas e os sismos são sinais do nosso Planeta Terra a dizer que estamos a fazer muita poluição.”
-              Hum, que mito espantoso avô. Mas… não consigo entender o que me queres dizer com isso.
-              Maria, eu quero que tu percebas que ao deitares lixo para o chão só estás a magoar a Terra. Que deitar lixo para o chão não é um acto muito correcto.
Depois da conversa com o Avô João, Maria foi para o quarto e pensou em tudo o que tinha feito e depressa adormeceu. No dia seguinte, a caminho da escola e de pequeno-almoço na mão, Maria, no seu acto habitual de deitar o lixo para o chão, pára para pensar sobre a conversa que tinha tido com o avô, sobre o mito que havia escutado de um homem experiente. E Maria apercebe-se de que o seu acto não esta correcto e coloca o lixo na sua mochila e assim que chega à escola escreve uma composição sobre tudo aquilo que aprendeu e coloca o lixo no ecoponto.
Assim que chega a casa, Maria corre para junto do avô, que a espera como sempre à janela e conta-lhe tudo o que tinha feito na escola. O Avô fica muito orgulhoso por ela ter percebido a mensagem que ele lhe queria transmitir com o mito.




 Black Swan

Andresa Gromicho Cardoso

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