sábado, 14 de maio de 2011

Um Passáro que voou do seu ninho

Era uma vez uma menina, ou melhor, uma jovem chamada Francisca e que vivia desde sempre no grande Palácio de Versalhes.

- A menina Francisca deseja alguma coisa? – Lá dizia a sua aia todas as manhãs quando via a jovem “Francisquinha”.



A Francisca vive com o seu pai, o grande Senhor D. Manuel, um grande caçador e homem de negócios, e com sua mãe D. Maria, uma bela dama que fazia vestidos para a menina.
A aia da Francisca vai todos os dias à praça, mas naquele dia as compras foram diferentes:

- Então Joaquina, como é que vão lá as coisas pelo Palácio? – disse lá um freguês amigo da Joaquina.

- Oh homem, é o de sempre. “Atão”, desde lá o nascimento da menina Francisca, menina não que ela já é moça, que a Rainha nunca mais pôde ter filhos, e “atão” como os homens da família morreram na guerra pelo nosso país, o trono ficou à mercê da menina. – Contava Joaquina

- Ah Joaquina, tu queres ver que é desta que a gente tem uma Rainha a mandar…

- Oh homem, “na sei”, deixa-me ir lá fazer as minhas compritas “pró” Senhor que hoje “ta” doentito. – Despediu-se a Joaquina do seu amigo.

- “Atão” vá lá – Lá disse o senhor.

E no palácio os nervos aumentavam:

- Mamã, e quando é que chega a minha aia? O papá parece piorar daqui para diante. – Dizia, aflita, a Francisca.

- Pois minha filha, à que esperar…esperar e rezar para que teu pai melhore.

Chegou então a aia da menina com os medicamentos que de seguida foi levar ao Senhor seu amo, e que no dia seguinte pareceu melhorzito:

- Bom dia meu pai! Então, com se sente hoje? – Acorda, Francisca, o seu pai.

- Pronto para uma caçada com o Visconde Jean-Claude.

- O Senhor meu pai nem pense em tal atrevimento! Seria lá descuido meu deixá-lo sair em dia tão tenebroso! Nem pense, hoje fica e mais logo jogamos uma partida de xadrez. – Ordenou a Francisca.

- Ai! Minha filha, minha filha… que seria de teu pai sem uma enfermeira como tu?!. – Desculpava-se o Senhor D. Manuel.

- Sim meu pai, delírio de um doente. Durma agora que mais logo volto a chamar para o almoço.

- Adeus minha santa. – Agradeceu o pai.

A Francisca é uma menina sempre pronta a ajudar. Não olha a meios, apenas a quem precisa. Toda a gente lá na Cidade e na Aldeia conhece a Francisca pela sua bondade e prontidão para com toda a gente:

- O almoço está pronto, minha Senhora. – Disse, ao entrar, a criada.

- Obrigada Antonieta. – Disse a Rainha – Vai chamar teu pai , Francisca.

- Vou sim, mãezinha.

- Não precisas incomodar-te minha filha, já estou aqui – Disse D. Manuel surgindo do alto das escadas – E pronto para jogar.

- Oh Senhor meu pai! Já se sente melhor? – Perguntou Francisca, alegre.

- Sim minha querida e estou cheio de fome. O que é o almoço?

- Poulet au Chef- Disse D. Maria.

- Hum, vamos lá provar essa especialidade. – Disse, desejoso de provar, D. Manuel.

No fim do almoço e depois da sobremesa, a Francisca jogou xadrez com a sua mãe e o seu pai. A Francisca divertiu-se muito com os seus pais, esta tarde, e logo pediu licença para sair:

- Mas onde vais filha? – Perguntaram os pais.

- Quero ajudar os doentes lá da vila. Eles precisam de mim. – Justificou Francisca.

- Está bem minha filha. Mas não chegues muito tarde e leva um guarda-costas contigo – pediu o pai.

- Está bem Paizinho, assim o farei.

E lá saiu a Francisca, muito animada por poder ir ajudar mais alguém que necessita de apoio. Porém, os seus pais reflectiam, ainda na sala, acerca do assunto:

- Esta nossa filha é sempre tão prestável – Disse D. Maria muito orgulhosa.

- É verdade! Fez-se uma bela moça! Uma Senhora, melhor dizendo. – Consentiuo pai.

- Cresceu muito depressa, foi o que foi! Sempre muito culta e aventureira.

- Pois sim. Só espero que não se tenha esquecido dos seus compromissos para connosco e com este reino. – Dizia D. Manuel.

- Sim meu querido. De certo não se esquecerá. Ainda que passe todo o tempo lá na vila.

- Assim o espero, minha querida. E se agora déssemos um passeio pelo jardim?

- Oh meu querido seria maravilhoso! Vejo que já se sente melhor.

O dia fez-se novo depois daquela tenebrosa tempestade. O céu estava lindo, azul! O Sol brilhava e o imenso jardim chamava pelas grandes Águias do Palácio.
Lá na vila, Francisca ajudava os doentes e estes agradeciam-lhe a sua bondade, dizendo:

- Nunca antes uma Princesa fez o que “vossemecê” está fazendo por nós. É um gesto muito nobre, menina. – Elogiou o senhor.

- Não faço mais do aquilo que gosto e devo. Este povo é a alma desta Cidade e sem ele nada disto seria possível. Por isso é importante preservá-lo. – Justificou-se a Francisca.

- Oh menina! Tão belas e dignas palavras. Deus vos abençoe.

- Muito obrigado meu bom senhor. Mas se não fosse a bondade e humildade deste povo, eu não seria a mesma. Vocês são a minha alma, são quem me dá força, são quem me faz acreditar que os sonhos são possíveis de realizar. Eu vivo disto, eu vivo para isto. Vocês são a minha fonte de energia e alimento para todo o dia, que sem isto seria um tormento.

- Oh boa menina, que poderemos nós fazer por si, para lhe agradecer tão bom gesto. Seus pais devem orgulhar-se muito de si.

- Não sei. Presumo que sim. Mas é que…eles não sabem que prefiro este gesto, a uma vida de Rainha, onde tenho de governar dia e noite.

- Minha filha, se o nosso reino puder um dia ter uma Rainha como vossa senhora, este povo nunca mais será o mesmo…
- Mas eu gosto deste povo assim…

- Não foi o que quis dizer, minha Senhora. Quis dizer que o povo seria mais feliz com uma Rainha tão bondosa como a menina, não desvalorizando o nobre trabalho de seus pais.

- Muito obrigada, meu senhor, por essas gentis palavras. Ainda assim não me convenço.

Notava-se que Francisca gostava da sua liberdade, de puder fazer aquele bom gesto pelos outros, a sua grande paixão.
Entretanto, seus pais, ansiavam pela sua chegada, Já se fazia noite e Francisca tardava em aparecer. De repente lá surge o passarinho:

- Boa noite meus pais. Reconheço que tardei em chegar, mas hoje o dia foi longo e intenso.

- Não tem importância minha filha. Apenas ficámos preocupados por já se fazer tarde. – Sossegou D. Maria.

- Bem, se meu pai dá licença, vou subir ao meu quarto e tomar um banho. Depois vestir-me-ei e descerei mais tarde para o jantar. – Pediu e informou a Francisca.

- Claro, minha filha! Faça favor de subir. A sua aia chamá-la-á quando forem horas de jantar.

- Então até já!

Francisca estava exausta depois de um dia de trabalho tão árduo como o seu, mas apesar de tudo sentia-se realizada por mais uma vez ter ajudado quem precisava. Assim sendo, Francisca, depois do jantar, deitou-se e adormeceu esgotada do seu dia gratificante.
No dia seguinte, Francisca fazia anos, mas lá no Palácio não era costume falar-se nos aniversários sem ser no próprio dia:

- Muito bom dia, minha filha! – Disse D. Maria com um olhar que mostrava o quanto o seu coração se derretia ao ver uma menina tão bela crescer assim tão depressa como uma flor que desabrocha e sorria para a vida.

- Bom dia, meu passarinho! – Desejou o Rei D. Manuel.

- Bom dia, meus pais! – Disse, ainda meio ensonada, a Francisca.

- Muitos Parabéns, querida! – Felicitaram os seus pais.

- Muito Obrigada!

- Descemos? – Perguntou a Rainha.

- Sim, minha querida. Quereis acompanhar-nos minha filha? – Perguntou o Rei.

- Pois sim, meu pai. Peço apenas uns minutos para me arranjar e de seguida descerei. – Consentiu a Francisca.

- Assim seja. Logo te esperamos.

A família Real tomou o pequeno-almoço e de seguida deu uma volta pelo grande jardim do Palácio de Versalhes:

- Minha filha, eu e o teu pai pensámos hoje deslocarmo-nos contigo até à vila, para conhecer o teu trabalho. – Comunicaram os seus pais.

- Claro! Porque não? Fico muito contente em sabê-lo. E não se trata de um trabalho, mas sim de um acto voluntário. – Explicou a Francisca.

- Hum, muito bem. Então assim será.

E assim foi, seguida do almoço, a família Real seguiu para a vila, onde puderam conhecer o trabalho de sua querida filha, também onde ficaram surpreendidos por existir tanto povo a necessitar de ajuda. Os pais da Francisca ficaram deslumbrados com a sua prestação naquele dia:

- Oh minha querida filha, vejo que faz um bom trabalho do qual aparenta gostar imenso. Ficamos muito orgulhosos de si por realizar um acto tão nobre. Não concorda, meu esposo? – Elogiou D. Maria, muito orgulhosa.

- Oh sim, minha querida. Muito digno de uma bela princesa como a Francisca.

- Bem, eu e o teu pai vamos visitar o resto da Comunidade. Ficas bem, minha princesa?

- Sim, minha mãe. Junto deste nobre e gentil povo, que não ficaria?! Vão descansados. – Sossegou a Francisca, a sua mãe.

Os Reis visitaram o resto da vila e não podiam ter ficado mais orgulhosos de sua filha:

- Meus Senhores, se me permitem, gostaria de dizer algo em relação à vossa filha. – Disse um freguês com um ar muito sério que desassossegou logo, a realeza.

- Diga, meu bom senhor. Faça o favor. – Disse D. Manuel.

- Meus senhores, vossas Excelências criaram uma filha, mas uma filha…oh meu deus! Que bela ela é. Tão generosa, tão delicada, sempre tão prestável e disponível. Nunca antes fora vista, aqui em Versalhes, tão boa pessoa da realeza. Não querendo desvalorizar, é claro, os meus senhores. Penso que este seja um dom de família. Penso também e pensa todo este povo, que se um dia a Senhora Francisca for Rainha deste Reino, nunca mais o povo será o mesmo. Não quererá outra coisa se não a mais generosa das princesas.

- Penso então que será necessário dar inicio à preparação da nossa filha para esse cargo. Eu já não vou propriamente para jovem e a minha esposa também não.

- Se me permite, meu bom senhor. A menina Francisca, se assim a posso chamar, disse-me, a mim, povo desta terra que não queria outra coisa na vida senão ajudar o povo da vila.

- Penso então que devemos ter uma conversa muito calma com a nossa menina, não concordas minha querida?

- Sim, sim. Assim o faremos.

Quando chegou o fim do dia, a família Real regressou ao Palácio e depois de um belo e merecido jantar, os Reis chamaram a sua princesinha à pequena sala de estar:

- Minha Francisca, “Francisquinha”. Meu passarinho, foi do nosso conhecimento esta tarde que a menina está a fazer um óptimo trabalho e pelo qual se tem interessado muito. Também foi do nosso conhecimento que não pretende honrar o compromisso que tem desde sempre para connosco e para com este Reino. Por essa razão acho necessário ter uma conversa acerca do assunto. – Expôs o assunto D. Manuel.

- Sim meu pai, minha mãe. É verdade. Nestes últimos anos em que tenho praticado este acto vanglorioso, tenho-me apercebido de que o meu lugar é junto do povo e nada mais. – Justificou-se a Francisca.

- Pois, de facto conseguimos ver isso na expressão do seu olhar para com aquele povo. O que é fantástico, porque nunca vimos outrora ninguém com uma força de vontade tão enorme como a sua. Mas o que está em questão é a sucessão deste trono. Como sabe a sua mãe não pode ter mais filhos e por essa razão a menina torna-se a única herdeira do trono de Versalhes.
- Sim, meu querido pai, mas não vejo como honrar dois compromissos, dois tão nobres compromissos.

- Minha filha, se a questão é essa, não há problema, o povo vangloria o seu acto. O povo diz que nunca mais será o mesmo com a menina no trono. E se for do seu agrado, nós não nos oporemos, poderá subir ao trono e fazer o seu acto de livre vontade o tempo que achar necessário. Apenas precisamos que alguém nos suceda.

- Bem, vendo as coisas desse ponto de vista, penso que não haverá problema algum. Se o meu povo gosta de mim assim, quer seja Princesa ou Rainha, então eu sucederei a meu pai e a minha mãe.

E assim terminou a história. A Francisca sucedeu D. Manuel e D. Maria e continuou a prestar ajuda ao seu querido povo que tanto a fazia feliz.


Andresa Gromicho Cardoso
2011-05-07

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